opinião

Nomes de rua



Convido o leitor, em especial aos que viveram em Santa Maria nos anos 60 e 70 do século passado, imaginar o que seria de nossa cidade sem a UFSM, que nasceu da obstinação do prof. José Mariano da Rocha? Santa Maria seria, provavelmente, uma cidade totalmente decadente pela derrocada da ferrovia, que até os anos 1960 era, permitam-me o trocadilho, a "locomotiva" da economia local.

Foi com a Universidade, a primeira federal sediada numa cidade que não fosse capital de Estado, que Santa Maria deu seu grande salto de qualidade, atraindo estudantes de todo o país e do Exterior, que formados levavam a cidade no coração. A UFSM mantém sua importância nos dias atuais, mas já não é suficiente para garantir o crescimento sustentável da cidade, que viu, ao longo dos últimos 30 anos, crescer assustadoramente seu entorno suburbano com a chegada de famílias em busca de oportunidades raramente alcançadas. A cidade empobreceu, perdeu vigor e guarda algum prestígio, que ainda resta do passado, mas que não é capaz de garantir novos investimentos e, o que mais assusta, sequer de manter o patrimônio e serviços públicos com qualidade.

Já de há muito tempo tenho registrado, em tom de reclamação, em colunas que escrevi neste Diário e há mais tempo no extinto A Razão, que a cidade não nominou um logradouro público importante com nome de José Mariano da Rocha, ou Reitor Mariano.

Lendo Pape Satân Aleppe, livro de Umberto Eco, recentemente lançado pela Editora Record, que repruduz coletânea de artigos publicados pelo autor na Revista L' Espresso, perdi a convicção de que dar nome a uma rua garanta uma homenagem permanente. Umberto Eco conclui que "dar nome de alguém a uma rua é o modo mais fácil de condená-lo ao esquecimento público e a um fragoroso anonimato. Com exceção de alguns raros casos, ninguém sabe quem são os personagens que dão nome a uma praça ou rua - e se foram conhecidos na época, com o tempo acabaram por se tornar, na memória coletiva, uma rua e nada mais.

Quantos dentre nós sabem quem foram e por que mereceram a homenagem que nominou as Praças Saldanha Marinho e Saturnino de Brito? Quem foram Visconde de Pelotas, Silva Jardim, Major Duarte, Vale Machado, Venâncio Aires, André Marques, Dr. Pantaleão, etc., etc.?

Achei também uma frase de Mário Quintana: "Era um grande nome - ora que dúvida! Uma verdadeira glória. Um dia adoeceu, morreu, virou rua... E continuaram a pisar em cima dele." Pois ele, Mário Quintana, ao qual a Academia Brasileira de Letras não lhe conferiu a imortalidade, hoje, passados anos de sua morte, é mais lembrado do que a esmagadora maioria dos "imortais" que têm ou tiveram assento na Academia.

É de pensar!

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